Você sabe o que é Co-depedência? E que afeta 25% das mulheres
- Por Emanuela Fernandes
- 25 de jan. de 2018
- 3 min de leitura

Uma pessoa muito responsável, afetuosa, que resolve todos os problemas do outro e evita conflitos. Por trás desses adjetivos pode estar um transtorno conhecido como codependência, que teve seu conceito ampliado pela psicóloga mexicana Gloria Noriega Gayol. Ela apresentou seu estudo – que lhe rendeu o prêmio Eric Berne, em 2008, concedido pela International Transactional Analysis Association – durante o Congresso Brasileiro de Análise Transacional (Conbrat), no Rio. Sua pesquisa com 830 mulheres em um centro de saúde no México revelou que a co-dependência – que antes estava ligada a pessoas que conviviam com alcoólicos e dependentes de drogas – também se apresenta quando há situações de estresse familiar ou social, como abandono, violência doméstica e perdas na infância, seja por morte ou separação dos pais ou de outro membro da família. “A pessoa co-dependente é muito responsável, trabalhadora, que tem empatia, que gosta de ajudar os outros e resolve os problemas dos outros. Contudo, seu problema é que não vê seus próprios problemas, não atende suas próprias necessidades. Vive a vida atendendo as necessidades dos demais, mas não vê suas próprias necessidades”, explica Gloria. “Então muitas vezes acaba fatigada, cansada, assoberbada, doente. Porque faz demais, enquanto a pessoa dependente faz de menos. A pessoa co-dependente pode ser muito carinhosa, muito afetuosa, mas não recebe o afeto que merece”. A psicóloga, que é diretora do Instituto Mexicano de Análise Transacional, explica que são pessoas que não dependem de substâncias e sim de outras pessoas dependentes, absorvendo seus problemas. Esse distúrbio é mais comum nas relações de casal e afeta 25% das mulheres. Para se ter uma ideia, durante um de seus cursos no Rio, 50% das mulheres presentes se identificou com o transtorno ao responder um teste que Gloria aplica para conhecer experiências que podem indicar sintomas de co-dependência Segundo a psicóloga Danielle Tavares, que presidiu o congresso realizado em Botafogo, Zona Sul do Rio, o problema é mais comum no público feminino porque esse comportamento nas mulheres é valorizado em nossa sociedade. “Os codependentes normalmente são pessoas doces, responsáveis, que se importam com o outro. Querem amenizar situações, manejar os conflitos, e isso é um tipo de coisa que acontece primordialmente com as mulheres. Por que? Porque esse tipo de comportamento, dentro da nossa cultura, é valorizado. Então a mulher tem uma maior predisposição em assumir um comportamento codependente”, explica Danielle. Em geral são pessoas que tiveram que apressar seu crescimento e dar conta de tarefas que não eram próprias da sua idade. Com isso, começam a ter responsabilidades muito cedo e se acostumam a resolver problemas, fazendo muitas coisas ao mesmo tempo. “Dependentes são aqueles que não fazem a sua parte na relação. Os codependentes fazem a sua parte mais a parte do outro”, conta Danielle. Padrões familiares Ao ampliar o conceito de co-dependência, a psicóloga mexicana detectou determinados padrões familiares que facilitam que essa pessoa desenvolva o transtorno. Para a também psicóloga Neiva Schefer, que participou do congresso, o conceito é inovador. “Nós tratamos muitas vezes o indivíduo focado na história de vida que ele tem, que ele nos narra, e muitas vezes sem dar conta de toda história de vida pessoal, familiar, que ele traz do passado dele para agora. A relação com o pai, com a mãe, que hoje faz com que as escolhas dele, a escolha do cônjuge, as opções que ele faz de vida sejam muito relacionadas com esse passado”, diz Neiva. Para ela, perceber esses sintomas é um caminho para deixar de repetir esses modelos. “Hoje nós estamos nos dando conta e podendo atuar em relação a isso. Porque é uma forma de ser das mulheres sem se dar conta. Elas repetem esse modelo, a avó, a mãe, a filha, e vão passando esse modelo, esse jeito de ser muitas vezes sem se dar conta e não podendo intervir em relação a isso”, explica. Primeiro passo é aceitar o problema Segundo Danielle Tavares, pessoas co-dependentes acabam se relacionando com parceiros abusadores, violentos ou com transtorno de personalidade, que não enxergam quem está ao seu lado. “O co-dependente esquece das suas necessidades”. Nesses casos, a terapia pode ajudar a pessoa a mudar esse padrão. O primeiro passo é aceitar que se tem um problema “É um tipo de comportamento que se tem vergonha. Você aceita isso e começa a trabalhar terapeuticamente para mudar”, explica Danielle. “Em análise transacional a gente acredita que, independentemente do que tenha acontecido com você na sua vida, você pode reaprender e mudar os padrões. A primeira coisa que se tem a fazer é aceitar que essa situação existe”.
Fonte: Artigo transcrito de: BOLETIM ABEAD - Drogas na mídia - 02/06/2009
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